segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Redação UFRJ

Na prova de ontem da UFRJ, a proposta de redação manteve o perfil dos últimos anos, enfocando um tema de teor reflexivo sem restrição ao caso brasileiro. Tratava-se de uma homenagem - como sempre indireta - aos 150 anos do nascimento de Freud. Obviamente, não era necessário conhecer detalhes da obra do médico austríaco, mas algumas breves referências (como a da folha extra e a da aula de véspera) até que poderiam ajudar...

Como havíamos alertado no sábado, o mais decisivo seria a interpretação exata das palavras do tema - a relação entre os estados de humor e as experiências da vida cotidiana -, associada a uma leitura "fecunda" da coletânea oferecida. Nessa perspectiva, a UFRJ nos ajudou, pois é bem possível que muitos candidatos falem de humor apenas ou não façam a relação com experiências do dia-a-dia, por exemplo.

Essa interpretação correta deveria levar em conta quais são os estados de espírito humanos (bom humor, mau humor, indiferença, "riso", "choro", riso excessivo, choro exagerado, ciclotimia etc.) e pensar sobre experiências cotidianas (no trabalho, nos estudos, na família, na rua, nas relações sociais). Depois disso, caberia elaborar uma mensagem ou tese. Eis alguns exemplos:

1) O bom humor é decisivo no enfrentamento do cotidiano, mas seu excesso pode ser prejudicial, tornando-se necessário equilibrá-lo com o questionamento mau humorado.
2) A consciência humana tem levado as pessoas a um estado predominante de pessimismo, o que evidencia a necessidade de buscar senso de humor, sem o riso exagerado ou cínico.
3) Embora o bom humor constitua uma "vantagem" e o mau humor seja negativo, o excesso do primeiro pode esconder uma postura que apenas o segundo revelaria.
4) Mais do que um reflexo da vida cotidiana, os estados de humor mostram diferenças de personalidade, que sempre dependem de fatores subjetivos profundos.
5) Ainda que, na maior parte das vezes, a experiência cotidiana crie motivos para o mau humor, é necessário que as pessoas desenvolvam a leveza do riso para melhor lidar com elas.

Vale ressaltar: nenhuma dessas teses configura um "gabarito"!

O aspecto nominal-afirmativo da proposta também foi favorável à nossa preparação, uma vez que é algo pouco natural redigir uma argumentação nessas condições. Entretanto, como enfatizamos a importância de elaborar um projeto de texto (tese, eixo, linha de pensamento) e o valor dos "ganchos", é bem provável que os textos dos alunos do _A_Z apresentem uma coerência rara, por comparação com a maioria.

Finalmente, no que diz respeito ao conteúdo da redação, muitas abordagens poderiam ter sido feitas. Para ficarmos apenas nas aulas da Reta Final, podem-se citar alguns aspectos:

* Aula 1: o texto "O mal da felicidade", no final da folha, em que um escritor fala sobre a obrigação de estar sempre alegre nos dias de hoje;
* Aula 2: a referência àquela pesquisa que mostra que a percepção sobre felicidade não está diretamente relacionada ao conforto material do indivíduo;
* Aula 4: a questão dialética do piadismo, que envolve a dicotomia leveza/leviandade;
* Aula 4: o aspecto ciclotímico (alterações bruscas de humor, conhecidas como transtorno bipolar) do brasileiro, que poderia ser expandido para a dimensão humana.
* Aula 5: a questão da consciência (auto)perceptiva como fonte da condição humana de infelicidade e angústia frente aos limites e deveres;
* Aula 5: a questão da incompletude humana e a procura por fugas, como essas "pílulas de felicidade" (Prozac);
* Aula 6: o parágrafo de introdução que associava Freud aos desejos e sonhos (quando falamos do insconsciente e do ato falho);
* Aula 6: a citação de Maiakovski sobre haver um homem feliz no Brasil (que também havíamos visto no filme da última aula de RIT do extensivo).

É claro que uma boa redação não precisaria utilizar esses conceitos e idéias, mas eles bem podem ter sido úteis na "hora H".

Além disso, também não podemos nos esquecer da melhor aproximação com o tema feita durante a semana. Afinal, se a UFRJ queria que discutíssemos a relação entre os estados de humor o cotidiano, o vídeo "Pérola e Plínio" pode ter sido uma boa fonte de inspiração. Pena que a banca não o conheça.

2 comentários:

  1. Reconheço que deu para aproveitar bastante coisa...

    ...Mais uma vez o _A_Z está de parabéns!!!

    =P

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  2. Nossa!
    Lendo esse comentário sobre o tema da UFRJ sinto um misto de nervosismo e nostalgia.
    Pude me ver passando novamente por essa experiência de temas de redação, ouvindo o Bruno Rabin falar sobre possíveis teses, argumentos... seus comentários são inconfundíveis, nem precisavam dos créditos.
    Me bateu até um frio quando li a palavra "ganchos"... ui!
    Os alunos do _A_Z estão em excelentes mãos e, pra variar, as folhinhas às vésperas das provas sempre trazem elementos chave.
    Foi muito bom sentar em frente ao pc no primeiro dia de férias após o término do meu primeiro período de Medicina na UFRJ e ver que tudo continua - bem - como sempre.

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